sexta-feira, março 14, 2014

Caminho para a Eternidade - Parte XVI



Victor abaixou um pouco o corpo amplo e procurou o olhar da Melissa, estava apagado, de um verde triste e melancólico. Mas ela fitou o olhar nele. Aproveitando que ela estava consciente, Victor lambeu o rosto dela devagar e seu corpo inteiro respondeu a isso, esquentando-se. 

- Beba meu sangue... – Ele disse, mordendo o pulso. 
Melissa afastou o braço dele e reuniu todas as forças necessárias para afasta-lo, Victor ficou visualmente confuso, mas permitiu e se afastou. 
Melissa foi cambaleando até a cama e voltou a se deitar, agora o ferimento já se fechava, mas ela ainda sentia o corpo inteiro doer, era uma mistura de fraqueza, orgulho e pura melancolia sobre seu futuro. 
- Caralho... – Victor falou enquanto saia do banheiro com uma das mãos nos longos e lisos cabelos pretos. – Beba meu sangue, se sentirá melhor. – Ele se sentou na cama e Melissa tremeu. – É tudo culpa sua, sabe disso não é? 
Victor aproximou o pulso da boca sem olha-la nos olhos.  
- Não quero... – Ela sussurrou, empurrando o pulso novamente. 
Victor tingiu os lábios com o próprio sangue de seu pulso e se aproximou de Melissa, que agora, chorava silenciosamente. 
- Já disse que não quero nada de você -  Melissa gritou com as poucas forças que lhe restavam, empurrando o braço do rei dos vampiros pra longe de si. 
Victor deu nos ombros e lambeu o próprio pulso cicatrizando a ferida e encarando a cara chorosa de Melissa. 
- Você esta patética... – disse enquanto se levantava e ajeitava a camisa – amanhã peça para Michael arrumar essa porta, do jeito que você é freira com certeza a ideia de me ver nú tomando banho deve lhe causa arrepios – desdenhou com um sorriso. 
Quieta, Melissa ouviu si mesma soluçar na cama, seu choro era muito mais sentido agora, tudo parecia simplesmente... Sem futuro. Percebeu quando a cama fez um leve movimento, era Victor se deitando ao lado dela e se ajeitando pra dormir. Sua cabeça rodava, doía demais, mas já havia parado de sangrar a alguns minutos, e não se sabe bem por quanto tempo Melissa chorou antes de ser tomada pela escuridão novamente.

- Curtiu a festinha? Sabe, eu achei ela bem mais animada do que imaginava para um casamento tão conservador... – Uma voz, deveras conhecida surgiu falando atrás de Erik.
Encarando seu reflexo no vidro da janela, Erik percebera as diferenças que um banho, tesoura e roupas finas lhe causavam. De longos cabelos loiros, agora um cabelo curto, rente, a barba de outrora, sumira e ele finalmente conseguiu se lembrar de como era fisicamente, olhos castanhos claros, rosto fino, mas bem marcado, pele alva. 
- Estou falando com você – A mulher insistiu.
- Ela foi forçada. – Erik respondeu rapidamente, ainda tentando se familiarizar consigo mesmo com aqueles trajes e com aquela aparência.
- Sim, óbvio... Mas admitamos Erik, aquele beijo na cerimonia foi um tanto quanto... “Quente” demais pra uma garotinha como Melissa. – A sombra riu fazendo com as mãos os sinais das aspas na palavra quente. 
Frustrado, deixou de encarar si mesmo e observou o reflexo da mulher no vídro da janela, ainda com aquele maldito capuz, ainda sem poder ver um centímetro de seu rosto, o que ela queria afinal? Tirou-lhe daquele inferno para lhe trazer em outro? Alimentar seu ódio? Ou quem sabe, usa-lo como cachorrinho dela pra trabalhos sujos...?
- Não vai ter o que quer de mim. – Erik disse suavemente.
A mulher pareceu surpresa e virou o rosto em sua direção enquanto se acomodava num divã de veludo atrás de Erik.
- O que quer dizer, vampiro?
- Quero dizer que... Eu não vou odiar Melissa, eu sei, eu... Senti que ela estava sofrendo, que ela não queria aquilo.
- As pessoas mudam, Erik.
- Não ela! – Erik bateu o punho contra o vidro trincando o mesmo instantemente. – Ouça-me bem, não sei o quem é, o que é e o que esperava de mim me salvando daquela prisão, agradeço por ter me trazido a porcaria dessa realidade aonde a mulher que sempre amei deve estar transando com ninguém menos que a porcaria do Rei dos vampiros nesse exato momento, mas eu não farei PORRA NENHUMA pra você! Entendeu bem? – Ele se virou, encarando aquela figura esguia que agora estava dando uma de “Cleópatra” no divã. – Me devolva e me deixe morrer naquele lugar, esse mundo não é o local que pretendo viver mais.
O que se seguiu fez as entranhas de Erik revirarem e seu sangue ferver, a figura... A mulher de capuz estava rindo alto e prazerosamente, e por um minuto, Erik pensou ter visto parte do queixo dela enquanto a mesma se deliciava com o momento. Após alguns minutos, tentando manter a seriedade. A sombra disse alto e musicalmente. 
- Ah! Erik... Erik... Erik... Pare de ser tão melodramático! Meu Deus! – Ela riu mais um pouco – Já pensou em trabalhar em novela mexicana?
- Vai se foder – desabafou Erik, encostando a cabeça no vidro da janela.
- Olhe pra si! – A sombra disse, erguendo os braços – É um jovem vampiro, belo, com roupas de marca, passaria facilmente por um aristocrático mesmo sendo apenas um servo...
Erik se manteve em silêncio, fechando os próprios olhos e ouvindo as gotas da chuva que começara a cair. 
- Eu não quero nada imoral de você. – A sombra tomou um tom de voz mais sério e controlado – Apenas quero... Te ajudar.
- E eu sou o Papai Noel – Erik comentou, sem se mover. – Já me ferrei bastante nas mãos de vampiros “bonzinhos” pra saber o que essa merda significa.
- Acreditando ou não, pra mim, particularmente não importa. Mas... – A mulher fez uma pausa proposital – Vai simplesmente desistir da sua dama?
Abrindo os olhos, Erik se virou e por um momento, observando aquela enorme sala em que eles estavam, se perguntou se a antiga casa de servo dele não seria do tamanho daquele cômodo... Claro, sem as estatuas, os ornamentos tão chiques que enfeitavam aquele local. 
- O que sugere? – Disse, por fim, se aproximando dela. 
- Pense por um momento, é mais que evidente que a jovem e pura Melissa não desejava o casamento, e é mais do que conhecido que o Rei dos Vampiros é simplesmente o homem mais nojento, mulherengo e sexualmente imoral que se tem noticia. – A sombra observou Erik fechar os punhos de raiva – Então... Porque não surgir como um cavaleiro num cavalo branco, resgata-la e toma-la para si? 
Erik franziu as sobrancelhas desacreditado, seja quem for aquela “sombra”, a mulher estava fora de si, como ele ia entrar na porcaria de uma mansão protegida simplesmente pelos melhores guerreiros do mundo vampírico, sequestrar a rainha e sair de lá pulando de alegria?
- Psiu, me escute – Como se a sombra soubesse o que Erik pensava, ela se levantou do divã e se aproximou dele – E se eu te tornasse um lord influente? Alguém que pudesse se infiltrar até mesmo naquela mansão, também conhecida como o castelo do rei?  Claro que para isso... Teríamos que pintar seu cabelo de algum tom mais escuro... Não quer ser reconhecido por ninguém né?
- Aham, e vai querer o que em troca? – Erik respondeu friamente. 
- Não quero nada. – Quando Erik ia virar o rosto rindo da piada, ela o tocou no braço suavemente – Por hora, eu não vou querer nada. Mas acredite, Erik, uma hora vou precisar de algo seu, e não poderá me negar.
- Não. – Erik foi ríspido – Não vou sair de uma prisão pra entrar em outra com você.
- Ok, então. Deixemos a pobre Melissa ser estuprada e maltratada por aquele cafajeste do rei... Quem se importa né? Provavelmente até a primavera ela já estará grávida. Isso se estiver viva até lá, dizem que o rei sabe MESMO ser violento quando o assunto é luta e sexo. 
A sombra parou na enorme e luxuosa porta do lado direito daquela sala vazia, abrindo-a, completou:
- Pode ir, seja feliz e todas essas baboseiras a mais. 
Sem mover um músculo, Erik respirava fundo, tentando conter todo ódio que agora nutria sua alma e seu sangue, só de imaginar aquele homem tocando Melissa, a forçando, dando tapas em seu rosto... Ele perdia a noção de tudo e naquela hora, percebeu que morreria por Melissa.
- Eu topo. – Disse, tirando um enorme sorriso da sombra enquanto a mesma fechava a porta. 


 



PS. Como foi difícil achar uma imagem que batesse com o que imagino que seja Erik! Bem, finalmente consegui e acho que a escolha ficou boa. Como notaram, estou tentando postar quinzenalmente Caminho para a Eternidade, e tentarei cumprir essa nova rotina. Agradeço aos comentários e me digam o que estão achando, sempre adoro saber a opinião de vocês!


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